A necessidade de se produzir vinho para as missas, levou os frades franciscanos a introduzir as primeiras vinhas em solo do Pico, provavelmente no ano de 1460, transportando para a ilha os conhecimentos adquiridos em outras partes do Mundo, especialmente em Itália e sul de França.
Segundo reza a história terá sido Frei Pedro Gigante, o visionário a introduzir num solo inóspito as primeiras vinhas, optando por proteger as videiras com muros rendilhados de pedra. Desde cedo se constatou que o vinho apresentava características diferentes do original de onde tinham vindo as primeiras videiras.
Paisagem da Vinha da Ilha do Pico, Património Mundial da Humanidade, reconhecida pela UNESCO
Situada no coração da Zona Protegida e Património Mundial da Unesco, é uma vinha centenária, abrigada pelos famosos currais e curraletas criados com a alma do Homem do Pico, algo necessário à proteção da vinha, mas que dá um ar único e belo a toda esta paisagem característica da ilha. Todas estas paredes de pedra se fossem colocadas em linha reta, daria para circundar o globo, na linha do equador, por duas vezes.
Existem alguns registos sobre a relevância do vinho do Pico no século XVI, principalmente sobre o alargamento da sua cultivação, mas o reconhecimento da importância da economia da ilha e dos Açores começa a ser significativa a partir de meados do século XVII.
A verdade é que se tornou tão importante, que a maioria dos trinta mil habitantes da época da ilha se dedicava ao cultivo, e os registos da primeira metade do século XIX revelam que as exportações do vinho do Pico pagavam mais impostos alfandegários do que todas as outras ilhas juntas dos Açores.
Devido à importância da viticultura foi inclusivamente proibido cultivar acima dos duzentos metros por o vinho já não ter a mesma qualidade, para fomentar a cultivação de fruta, tendo em conta o solo basáltico da ilha e para preservar a lenha, único combustível então.
As grandes pragas de míldio, oídio e a filoxera, que dizimaram as vinhas do Pico e da Europa, após a primeira metade do sec. XIX, provocaram um surto de emigração e o abandono da maioria das vinhas. Apenas a zona do Lajido da Criação Velha voltou a enxertar as tradicionais castas Verdelho, Arinto dos Açores e Terrantez do Pico.
A produção vitivinícola picoense remonta a 500 anos de história, num solo vítima da atividade lávica da montanha do Pico, revelando um solo impróprio para cultivo, a não ser a própria vinha. Por ser tão específico e característico, este néctar desta ilha no meio do Atlântico, ficou afamado e viajou pelos quatro cantos do mundo, chegando às mesas mais importantes da Europa e além Mar.
Existem imensas menções do vinho “passado” do Pico ter sido servido à mesa de Papas, Imperadores e Czares, sendo cobiçado pelos homens mais ricos do mundo.
O vinho Verdelho produzido no Pico, que respeita as técnicas e tradições seculares, faz parte da história dos vinhos do Mundo. Além de ter chegado às Índias Orientais, Nova Inglaterra e Terra Nova, e de ter sido exportado como vinho da Madeira, foi também servido à mesa dos Czares da Rússia, que enviavam propositadamente os seus barcos aos Açores para carregar o vinho com destino aos banquetes reais.
No decorrer do século XIX, existem registos de terem sido exportados para a Rússia 23.250 litros de vinho passado, para o porto de São Petersburgo, onde se encontrava a corte mais rica do mundo na época. O gosto pelo vinho do Pico foi confirmado após a Revolução Bolchevique quando foram encontradas garrafas de vinho passado do Pico nas caves do Palácio de Inverno.
“Carta de João Carlos Scholtz dirigida a Nicolau Maria Raposo de Amaral data de 4 de setembro de 1778, acompanhada de registo de carga datado de 16 de maio de 1777”, Universidade dos Açores, Biblioteca, Arquivo e Museu, Arquivo Raposo de Amaral.
O vinho do Pico também chegou à mesa dos Papas e em 1797, num documento enviado pelo Vaticano, surge na lista de vinhos num banquete oferecido ao Grão-Mestre dos Cavaleiros de Malta. Além disso, chegou a constar de receitas médicas como cura para certas maleitas.
Historia Insulana das Ilhas A Portugal Sugeytas no Oceano Occidental, Composta pelo Padre Antonio Cordeyro, da Companhia de Jesus, Insulano Tambem da Ilha Terceyra, e em Idade de 76. Annos: (1717), página 474.
“o maior fruto, e mais célebre desta grande Ilha do Pico, é o seu muito, e excelente vinho” (…) “muito vai para o Brasil” (…) “o vinho passado do Pico, emprega-se mais em gastar os maus humores, confortar o estômago, alegrar o coração, e avivar, e não fazer perder o juízo”.