Com um trabalho de duas gerações, e uma aposta na tradicionalidade da vindima do Homem do Pico, Fortunato Garcia continua o trabalho do seu pai, José Duarte Garcia, na produção do vinho Czar.
Com um trabalho de duas gerações, e uma aposta na tradicionalidade da vindima do Homem do Pico, Fortunato Garcia continua o trabalho do seu pai, José Duarte Garcia, na produção do vinho Czar.
A primeira vinha adquirida por José Duarte Garcia foi quase por imposição do anterior proprietário. Colegas de profissão, José Rodrigues conheceu José Duarte Garcia na Criação Velha e, após frequentes períodos de convivência, manifestou interesse em que o colega assumisse a vinha, porque a idade já lhe era avançada e nenhum dos seus herdeiros desejava dar continuidade à produção e, segundo este, o vinho passado do Pico iria desaparecer.
Desta amizade nasce a epopeia da produção de vinho licoroso, que garantiu a continuidade do típico vinho passado do Pico, na altura em queda de produção. A maioria dos produtores estava a mudar para a casta do Arinto dos Açores por ser mais resistente e mais produtiva, mas que não atinge as graduações do Verdelho e do Terrantez do Pico, essenciais para a produção dos licorosos naturais, normalmente acima dos 18%.
A experiência de Fortunato Garcia nas centenárias vinhas do Czar iniciou-se aos seis anos, quando começou a calcorrear os terrenos de basalto com o pai. Em 1989, saiu da universidade e iniciou a sua carreira a dar aulas na sua terra natal, altura em que começou a se envolver na produção do vinho Czar. Após o falecimento de José Duarte Garcia, em 2007, Fortunato era o único filho que o tinha acompanhado nos trabalhos das vinhas e na produção do vinho, assumindo assim o projeto.
Após o falecimento de José Duarte Garcia, em 2007, Fortunato era o único filho que o tinha acompanhado nos trabalhos das vinhas e na produção do vinho, assumindo assim o projeto. Prolongou o tempo de envelhecimento com a expectativa de melhorar a qualidade e complexidade do vinho, mas manteve-se fiel aos conhecimentos transmitidos pelo pai.
Fortunato Garcia continua o negócio de segunda geração, iniciado pelo seu pai José Garcia Duarte, o vinho Czar, produzido de uma forma tradicional, honrando os processos centenários da vindima da Ilha do Pico.
Na descoberta dos registos das exportações de verdelho para a Rússia, especificamente para a corte dos Czares, o produtor José Duarte Garcia entendeu que o nome Czar seria o ideal para o vinho, que ganhou essa denominação no início dos anos 60 do século passado.
Na descoberta dos registos das exportações de verdelho para a Rússia, especificamente para a corte dos Czares, o produtor José Garcia entendeu que o nome ‘Czar’ seria o ideal para o vinho, que ganhou essa denominação no início dos anos 60 do século passado.
“Carta de João Carlos Scholtz dirigida a Nicolau Maria Raposo de Amaral data de 4 de setembro de 1778, acompanhada de registo de carga datado de 16 de maio de 1777”, Universidade dos Açores, Biblioteca, Arquivo e Museu, Arquivo Raposo de Amaral.
A produção deste vinho licoroso está dependente das condições climatéricas da ilha. Se por um lado, a influência do Atlântico e o sol em abundância são pontos favoráveis para o fortalecimento e crescimento da uva Verdelho, as adversidades como a chuva e o vento prejudicam a uva. Para tal mal, o Homem do Pico colocou a sua alma e suor na épica obra que são os currais de pedra, que se tornaram a paisagem característica desta ilha atlântica. Estes currais, são quatro paredes de pedra, que impedem o vento e o mar de prejudicar a vinha, conservando o calor da pedra basáltica.
É mesmo preciso ser dotado de uma grande teimosia para não abandonar esta forma tradicional e ancestral, mas maravilhosa de produzir vinho.
Além dos anos incertos, por vezes maus, e de ser necessário vindimar uva passada, que se revela pouco líquida, aproximadamente 75% menos do que se fosse na altura normal. Após oito a dez meses em fermentação em barricas com capacidade de 225 litros, o vinho é passado a limpo e as barricas atestadas, ficando assim até totalizar os oito anos após colheita.
Dos 225 litros iniciais, somente se retiram 150, sendo que o resto é bebido pelos anjos. Somando estas percentagens, para produzir este tipo de vinho amoroso, tem-se uma produção de menos 85% do que é necessário para produzir um vinho de mesa.